Resultados da Conferência Livre

Aqui reunimos os dados gerados durante os painéis e mesas de discussão da Conferência Livre da 5CNCTI, realizada em 26 de março de 2024, no auditório da Fundação Bunge. Confira abaixo um resumo do que foi esse evento, com os principais temas e pontos abordados, contribuições e conclusões gerais.

Resumo dos painéis

Painel 1
Contribuições da Ciência e Tecnologia para o aumento da conectividade e tecnologias acessíveis no campo

  • Contribuições para tecnologias acessíveis no campo

    Para falar de contribuições para tecnologias acessíveis no campo temos que olhar o contexto mais amplo da transformação digital, contextualizar a conectividade e a rastreabilidade pensando no futuro conectados aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde a agricultura é determinante.

    Em artigo publicado na revista Nature, pesquisadores de diferentes áreas, incluindo Jeffrey Sacks e a professora Mariana Mazzucatto apontaram transformações-chaves essenciais para os países avançarem no cumprimento das metas do Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030. Eles relacionaram seis grandes transformações que impactam todos os Objetivos: educação, gênero e desigualdade; saúde, bem-estar e demografia; energia descarbonizada e indústria sustentável; produção sustentável de alimentos; uso da terra, águas e oceanos; cidades e comunidades sustentáveis; revolução digital para o desenvolvimento sustentável. A base para essas seis transformações é ser inclusiva, não deixar ninguém para trás.

    A transformação digital, especificamente, afeta de maneira intensa todos os 17 ODSs, da fome zero à preservação da vida na Terra. Um importante objetivo da conectividade, por exemplo, é a rastreabilidade.

    Para a transformação digital global, a OCDE aponta desequilíbrios e oportunidades que passam por disponibilidade de cabos, de dispositivos conectados (oit), novos modelos de negócios e governo digital voltado para o cidadão. No Brasil, seriam 4 eixos habilitadores: economia dirigida por dados, avanço dos dispositivos conectados como Internet das Coisas (iot), novos modelos de negócios para ter grandes empresas nesse setor e governo digital voltado ao cidadão.

    Esses eixos, por sua vez, habilitam outros eixos-chaves que são: infraestrutura de rede e acesso; pesquisa, desenvolvimento e inovação; confiança no ambiente digital - e no Brasil ainda temos dificuldade em ter um ambiente seguro para realizar transações e preservação de privacidade; educação profissional - o treinamento das habilidades e preparação da força de trabalho para o uso dos recursos da economia digital; e a dimensão internacional.

    Essa análise traz um ponto de discussão importante para a quinta conferência: o Brasil faz muitos planos, porém concretiza poucos. Não atribui recursos e prioridades a esses planos. Prova disso é que embora o uso de recursos digitais no país tenha avançado nos últimos anos, a inclusão de todos não ocorre. Essa deveria ser uma política-chave da 5ª. Conferência: o avanço científico e tecnológico tem que trazer necessariamente a inclusão para o País.

    A academia brasileira trabalha ativamente na construção da agenda do G20 no que se refere a ciência e tecnologia, através do grupo S20 (Science 20) que estuda como usar a IA para criar oportunidades multidisciplinares no domínio de tecnologias agrícolas e ambientais. Os pesquisadores veem a importância para o setor do uso da inteligência artificial no contexto da agricultura, da produção de alimentos. Essa análise traz um ponto de discussão importante para a quinta conferência: o Brasil faz muitos planos, porém concretiza poucos. Não atribui recursos e prioridades a esses planos. Prova disso é que embora o uso de recursos digitais no país tenha avançado nos últimos anos, a inclusão de todos não ocorre. Essa deveria ser uma política-chave da 5ª. Conferência: o avanço científico e tecnológico tem que trazer necessariamente a inclusão para o País.

    Para o uso de IA na agricultura em grande escala é preciso acesso a recursos computacionais e redes de grande capacidade para troca de dados, que é grande, e infraestrutura de coleta de dados de iot, entre outros. Mas, as oportunidades para o avanço são imensas. E esse é outro ponto que deve ser colocado prioritariamente. Como trazer a inteligência artificial para a agricultura como um todo. Há ainda outras questões a serem enfrentadas como a desinformação na ciência e a preservação de uma cultura digital.

    O impacto potencial dessa agenda digital é muito grande. Os avanços no conhecimento, nas técnicas de produção podem melhorar a distribuição de recursos na agricultura, na logística, melhorar o bem-estar. O que move esse trabalho é olhar para o futuro e ver como a ciência pode trazer benefícios para a população como um todo e não restringir esses benefícios a apenas um ou outro grupo social.

    Porque se não for assim, podemos ampliar as desigualdades. As grandes corporações e grandes empresas de agricultura terão acesso mais fácil. Porém, como ficarão os agricultores familiares? Como planejar esse esforço de modo a incluir os pequenos agricultores? Novas estratégias e mecanismos são necessários para garantir que os produtos da ciência e da tecnologia, alcancem a sociedade de uma maneira mais rápida, mais igualitária e efetiva para trazer o bem-estar necessário ao povo.

    Se endereçarmos essas questões de uma maneira adequada, não teremos simplesmente mais um elemento, mas o contexto de progresso tecnológico digital para o país. Para o futuro digital, e a agricultura digital especificamente, há que pensar em 5 grandes elementos: governança desses processos digitais, com políticas públicas e incentivos para o avanço da conectividade; ambiente regulatório por causa dos dados da agricultura cada vez mais valiosos para a produção de novos produtos e serviços; formação de talentos digitais, de pesquisadores, assim como, numa maneira mais ampla, de toda a força de trabalho; infraestrutura e ferramentas como elementos das inovações tecnológicas; novos processos e serviços.

    Olhando para a economia digital de décadas anteriores, tivemos um avanço da infraestrutura, porém não igualitária. Na última década, houve grandes avanços tecnológicos, como reconhecimento facial e inteligência artificial. Agora, esta é uma década de políticas, regulação e governança. Significa que o governo tem que ter políticas para o país ser um player importante na economia digital e avançar na inovação.

  • Políticas, regulação e governança são pontos importantes sob a ótica econômica do setor de telecomunicações, que investe, gera empregos e está sempre buscando a plena digitalização e a plena conectividade do país.

    Em relação às necessidades da agricultura, a cobertura móvel - 2G, 3G, 4G -, ainda está aquém. O grande desafio é conseguir investimentos em infraestrutura diretamente associados ao retorno, que por sua vez depende dos ambientes de governança, regulação e enfrenta barreiras para se tornar viável. O país tem aproximadamente 30% da área agrícola coberta. Estados menores ou mais densamente povoados como São Paulo, Rio de Janeiro e Sergipe contam com 60% a 75% de cobertura enquanto o Mato Grosso, grande produtor agrícola, tem menos de 15% de sua área coberta pelas tecnologias móveis.

    Enquanto o centro-oeste, o Matopiba e outras regiões altamente produtivas do agronegócio brasileiro, o ambiente rural, a cadeia produtiva e toda a população e serviços públicos não estiverem plenamente cobertos e digitalizados não conseguiremos avançar no ganho de produtividade e eficiência necessários. Isso afeta diretamente a rastreabilidade. 46% dos 125.000 km de estradas pavimentadas no país estão cobertos. A cobertura aumenta mais perto do litoral, onde está 80%, 90% por cento da população brasileira. Quando se olha para dentro do país, onde está 80% da produção agrícola, a cobertura é mais rarefeita. Ou seja, há uma dissonância entre onde estamos e onde os investimentos devem estar. É preciso pensar além da fazenda, pensar na estrada, nos corredores logísticos, na indústria, na exportação e no destino da mercadoria, passando pelas embalagens e pela reciclagem.

    A questão da tributação é importante: quase R$ 30 de uma conta de R$ 100, por exemplo, se destinam ao ICMS dos Estados, PIS, Cofins e fundos setoriais que não são investidos nas necessidades do setor de telecomunicações. Há 24 anos 1% da Receita Operacional Bruta dos serviços de telecomunicações é arrecadado para o Fust - Fundo de Universalização sobre os Serviços de Telecomunicações -, e nada foi investido até hoje. Corrigida pela inflação, essa arrecadação seria de 45 bilhões de reais. E não só o Fust mas ainda Funtel, Cfrp, Condecine, Fistel, saem da conta de telecomunicações de cada brasileiro, de cada empresa brasileira, onerando o serviço sem que sejam reinvestidos no avanço da digitalização no país.

    Essa situação faz com que o Brasil seja um dos países mais tributados do mundo e traz enorme desequilíbrio ao retorno sobre o investimento em telecomunicações.

    É verdade que a menor capacidade de demanda também contribui para a redução de retorno. Por isso, a capacitação e o letramento digital do trabalhador, do cidadão, da população, do investidor são essenciais para permitir o reconhecimento e a exploração da tecnologia e de novas técnicas no campo. De nada adianta um maquinário altamente sofisticado, uma conectividade que chegue, se não há capacidade humana, conhecimento técnico e letramento digital para a operação. É preciso treinar as pessoas constantemente, para acompanharem o desenvolvimento do conhecimento, terem capacidade de inovação. Acelerar o desenvolvimento de novas aplicações é também essencial para geração de novas demandas, o que amplifica a capacidade de retorno do investimento. Acelerar investimentos na infraestrutura digital no campo, à medida que surgem novas aplicações, que a internet das coisas passa a ser uma realidade nas empresas e novas técnicas são incorporadas, cria capacidade de produção de novas tecnologias e mais eficiência, garantindo retorno para o investimento da infraestrutura.

    O ambiente regulatório é uma das barreiras a serem enfrentadas. Qualquer infraestrutura de telecomunicações como uma torre, por exemplo, deve ser licenciada junto ao município, que tem a prerrogativa do uso do solo. Em 90% dos municípios enfrenta-se precariedade, burocracia e falta de clareza e de segurança jurídica para licenciamentos. Em 2015, foi aprovado o arcabouço para licenciamento de infraestruturas, a Lei Geral de Antenas. Apenas 10% dos municípios brasileiros se atualizaram para permitir o licenciamento de torres, causando demora de até 2 anos para liberar uma torre já construída ou autorizar a obra.

    É nítido, por esses exemplos, que ainda não há uma confluência, uma visão ampla de governança da digitalização no país, que concentre todos os esforços, seja articulação dos municípios, sejam discussões tributárias, seja a capacidade de produzir mecanismos de cashback tributário, que olhe para a população de baixa renda, que tem uma presença importante nos ambientes rurais do país. Falta capacidade para governos estaduais e municipais produzirem políticas públicas. Há bons exemplos. Minas Gerais, Ceará e alguns outros estados já tiveram iniciativas e criaram incentivos com o próprio investimento no avanço da conectividade, da cobertura das redes móveis, das redes de fibra e, com isso, aceleraram a digitalização do campo.

    O comitê de inovação da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) tem um grupo de trabalho sobre conectividade que estuda o que fazer em termos de políticas públicas e ações de Estado e da sociedade para amplificar, ampliar, acelerar e adensar os investimentos em infraestrutura digital no país, em relação a oferta e demanda por investimento de retorno. Esse é o esforço da ABAG e sua disposição nesse debate mais amplo no ambiente da ciência e tecnologia, mas também das políticas públicas e, sem dúvida das reformas microeconômicas que precisamos no país, vetor importante para acelerar a digitalização no ambiente rural. O estudo vai entender mais a fundo essas questões, apresentar um diagnóstico e um set de recomendações sobre as barreiras que enfrentamos, tanto na ampliação da oferta quanto na capacidade de viabilizar a demanda.

  • Estamos testemunhando uma revolução na agricultura impulsionada por avanços, como a internet das coisas, que habilitam a integração de dispositivos, de sensores em todo o campo para coletar dados em tempo real sobre condições climáticas, solo, culturas e a integração dos equipamentos dentro da fazenda como, por exemplo, inteligência artificial, sendo aplicada em processos e análise de dados massivos para fornecer aos agricultores insights valiosos, sobre itens que são simples e acontecem a milhares de anos: quando plantar, quando irrigar, quando aplicar fertilizantes, quando colher, otimizando, assim os processos produtivos e maximizando os rendimentos. Da mesma forma, o uso de drones para monitoramento preciso de culturas, identificação de pragas, doenças, mapeamento topográfico. Tais tecnologias são como habilitadores de melhora de performance e de execução nos processos da agricultura.

    Entretanto, nesse cenário, apesar dos avanços tecnológicos, há desafios significativos como a garantia da segurança cibernética e privacidade dos dados, assim como interoperabilidade. Não é raro que diferentes sistemas e dispositivos conectados na fazenda como uma estação meteorológica, que captura informações climáticas relevantes, e um ou mais sistemas, coletando dados das máquinas, não se conversem, não cruzem dados.

    Esses são desafios precisam ser claramente abordados para garantir que os benefícios da ciência e da tecnologia possam ser plenamente realizados no campo, onde há muita ciência aplicada, como por exemplo na temática de produtos mais sustentáveis, biológicos e afins. A ciência realmente tem contribuído positivamente para esse cenário. Infraestrutura, inclusão, capacitação e acesso amplo à tecnologia digital são fundamentais para um amplo uso de tecnologia no campo, na agricultura e pela população como um todo.

    A inclusão e a capacitação serão pontos importantes porque se trata tanto dos pequenos produtores quanto dos grandes, porque quanto mais se avança para a tecnologia, maior expectativa de que o produtor saiba utilizá-la. Mas falta o letramento. Um grande produtor, por exemplo, que implementou várias tecnologias na fazenda, diz que “parece um painel de avião, tem tanto botão para apertar, tem tanta coisa pra eu visualizar que se torna pouco acionável”.

    O produtor precisa ter o letramento para fazer conexão entre a tecnologia e a ação, com os insights trazidos pelos dados ou ferramentas, um letramento mais refinado para usar a tecnologia de maneira mais efetiva, com melhores rotinas, melhoras de performance e de execução, melhor produtividade. Além disso, o acesso à tecnologia digital, é um pilar fundamental que somado à infraestrutura e letramento habilita o produtor à plena digitalização.

    As temáticas de conectividade e rastreabilidade estão contempladas nas operações da Bunge em dois projetos. O primeiro é uma fincrop, uma fintech criada no ano passado para habilitar o produtor rural ao acesso mais rápido, simples e ágil ao crédito. Crédito é importante alavanca no agronegócio e a Bunge percebeu a oportunidade para conectar o mercado financeiro e o campo. A fincrop tem o intuito de oferecer uma solução pesada em termos de tecnologia e de utilização em escala e traz isso efetivamente no core da tecnologia aplicada mantendo a essência de avaliar o produtor da perspectiva do campo e não totalmente financeira, com peso significativo na avaliação dos elementos de sustentabilidade.

    De forma híbrida, os dados são coletados manualmente, por sensoriamento remoto ou outras ferramentas para coleta de dados públicos e privados, mecanismos de inteligência artificial e machine learning para melhorar essa execução através da fincrop. É uma ação extremamente enriquecedora para a Bunge que exerce o seu papel de conectar o agricultor ao consumidor e habilitar o produtor a ter uma melhor execução.

    O outro projeto está relacionado à rastreabilidade. Trata-se de uma parceria com a empresa CPFoods, companhia global e um dos principais clientes da Bunge no mundo, reforçando o propósito de conectar agricultores a consumidores. Esse projeto entrega informações relacionadas à nossa originação. A compra de grãos dos produtores rurais se dá com esse cliente final para que receba informações relativas àquele produtor e seus critérios socioambientais. Para habilitar a rastreabilidade buscamos uma tecnologia que proporcionasse isenção no compartilhamento da informação e possibilitasse imutabilidade aos dados fornecidos assim como uma série de outros critérios relativos à segurança. A Blockchain foi a tecnologia escolhida e está sendo utilizada para registro e entrega de informações aos clientes finais.

    Para dar conta dos investimentos necessários, que são enormes, é importante realizar parcerias entre o mercado privado – empresas e companhias -, entidades e academia, trabalhando para trazer também o ambiente público para esse investimento. É preciso impulsionar a inovação, a colaboração e o progresso dessas temáticas para o desenvolvimento do agronegócio. Conectividade, adoção de tecnologia no campo são itens fundamentais para impulsionar a produtividade, eficiência e a sustentabilidade do agronegócio brasileiro.

    É preciso promover encontros e discussões para impulsionar a colaboração, porque temos plena consciência que não resolveremos o problema sozinhos. É importante a utilização da inovação aberta para resolver problemas. Temos falado com universidades, com a academia como um todo, com startups, com outras corporações, para discutir esses problemas e temáticas e procurar soluções. Esse é o caminho: a colaboração é a palavra de ordem.

    Só teremos um agro, mais moderno, mais tecnológico, mais sustentável quando tivermos uma colaboração mais frequente em fóruns como este para trocar ideias e exercer o papel de comunidade, na criação de soluções em conjunto.

  • CASE
    O que a área governamental tem feito para ampliar a conectividade no campo.

    O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do Ministério de Ciências, Tecnologia e Inovação (MCTI) a pedido do Ministério das Comunicações (MCom) realizou, em 2023, um estudo de demanda por conectividade no campo buscando atender o produtor rural e, ao mesmo tempo, as pequenas comunidades que vivem em seu entorno. O resultado é um panorama da conectividade no território brasileiro, com mapas de demandas e prioridades, que devem ser disponibilizados ao público ainda no mês de abril.

    O estudo foi coordenado pelo assessor técnico do CGEE, César Augusto Costa e teve as colaborações da empresa Entropyx Engenharia, da Escola de Agronomia Luiz de Queiróz (Esalq – USP), do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel) e do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD).

    A conectividade no campo é uma tendência mundial. Uma constatação é que o uso de tecnologias como iot (internet das coisas) e inteligência artificial (IA) no campo pode aumentar em pelo menos 20% a produtividade.

    Entretanto, no Brasil, a carência de conectividade no campo é uma realidade. Apenas 26% da área agrícola tem boa cobertura de 4G e 17% das áreas de pastagens. Em relação ao 3G, 48% das áreas agrícolas e 33% de pastagens são cobertos. Essas lacunas impedem o total aproveitamento dos recursos já disponíveis no maquinário agrícola que incorporam recursos de conectividade e automação.

    O ideal é ampliar a cobertura para que os vários sensores de iot forneçam informações para o produtor rural sobre, por exemplo, as condições do terreno, mapa de onde irrigar ou adubar, detectação de animais doentes. Para isso, é necessário desenvolver infraestrutura de conectividade, com instalação de torres e backbones nessas regiões, diminuindo a disparidade digital entre as áreas rurais e urbanas, que têm 80% a 90% da área coberta. Igualar a conectividade nas duas áreas reduziria a evasão de jovens que buscam nas cidades as facilidades da conectividade. Se puderem fazer suas carreiras no campo, sem dúvida, crescerá o potencial para inovação, porque serão instalados milhares de sensores na área produtiva, empresas terão interesse em desenvolver esses dispositivos e a demanda por análise dos dados gerados pelos dispositivos, virarão oportunidades de trabalho qualificado.

    Para conquistar esse cenário, o acesso à informação é crucial. Facilitar a coleta de dados, disponibilizá-los em processamento na nuvem, entregar para o produtor resultados palpáveis, de fácil leitura, é fundamental para maior eficiência operacional, permitindo otimizar o uso de insumos, prevenindo problemas rapidamente, automatizando tarefas e reduzindo a movimentação de funcionários. Presencial ou remotamente, é possível monitorar a propriedade a partir de uma central de comunicação, definir onde e quanto colher, quanto embarcar no caminhão, estimar perdas no transporte, monitorar estradas, logística e armazenagem. Tudo em tempo real.

    A conquista desse cenário permitirá também a inclusão digital das comunidades do entorno, que se beneficiarão das informações e dados coletados, e terão acesso à educação de crianças e adultos que lá habitam.

    Hoje temos algumas dificuldades para isso se tornar realidade. Uma, é a conectividade limitada. Outra, a necessidade de segurança cibernética, porque são muitos dados, e sigilosos. O sistema não pode ficar exposto a ataques ou falajhs. Neste momento, o estudo considerou somente a expansão de 4G, sem a internet via satélite que, entretanto, é viável e até melhor em áreas mais distantes de backbones de fibras ópticas. Além de menos dispendiosa que a instalação de fibras ópticas em regiões remotas, uma estação de recebimento de sinal de satélite permite ramificar a distribuição. Os custos são proibitivos ainda para pequenos produtores. Mas já existem associações de produtores investindo na tecnologia e as indústrias de maquinário agrícola oferecem como facilidade a instalação de receptores na propriedade para distribuir o sinal. Essa solução, porém, não favorece as comunidades, então, como um movimento governamental, estamos preocupados que haja ramificação em outros setores.

    O estudo apontou várias escalas de conectividade - desde mais próximas como bluetooth e NFC até WLAN, wan e satélite -, que se adequam à escala demandada pelo produtor e ao tipo de tecnologia, considerando também a quantidade de dados “massivo iot”, uma grande quantidade de dado com baixa latência, e o “crítical iot”, grande quantidade de dados grandes e muita confiabilidade como, por exemplo, para veículos autônomos e serviços de saúde.

    A escolha da tecnologia depende de critérios como preço, durabilidade das baterias e banda. No Brasil há várias tecnologias. O estudo traz dias opções: NB-iot, adotada na Ásia e na Europa oriental, e LTE-M mais utilizada na América e que seria mais viável porque, apesar dos dispositivos serem um pouco mais caros, tem banda mais larga, pode ser usada para voz utiliza a infraestrutura de 4G já implantada.

    As classes de demanda, dependendo da prioridade de comunicação, são a região logística, as infraestruturas produtivas e o monitoramento ambiental. Inclui também escolas - um pedido do Ministério das Comunicações -, e algumas de acordo com renda, produtividade e densidade de ocupação no território.

    Os pesquisadores desenvolveram um mapa do Brasil com cada região de demanda. Trata-se de um mapa georreferenciado com 1 km² de resolução onde é possível saber exatamente onde colocar torres, a atual cobertura de 4 G e 5G, inclusive velocidade de conexão. Para entender como aumentar a conectividade, foi feita uma simulação dentro dessa grade de 1 km² com o custo fixo das torres em dois modelos, o 4G regular e o Rooftop para usar em infraestruturas da propriedade com galpões ou silos altos com antenas, de forma a otimizar a cobertura e suprir a demanda. Pensando em custo-benefício, a área de cobertura de comunicação e informatização necessária, o custo de iot aplicado para a produção rural, conseguiria cobrir uma área bastante vasta, cerca de 30% do território, com valor estimado em 36 bilhões.

    Do ponto de vista regulatório, é preciso alterar algumas leis e liberar alguns consentimentos de bandas para que se possa trabalhar com esse tipo de conectividade. Quanto aos investimentos, há instrumentos de fomento estaduais e federais como BNDES, Finep e o FUST, que pode ser utilizado. Vale destacar que as operadoras que receberam concessões de 5G têm desenvolvido a infraestrutura principalmente nas regiões próximas às estradas e estão em dia com o cumprimento das determinações do poder concedente. Mas as iniciativas da sociedade, das associações de produtores, dos grandes produtores rurais podem impulsionar ainda mais a conectividade para dentro das áreas rurais.

Painel 2
Como a Ciência e a Tecnologia podem colaborar com a Rastreabilidade no Setor Produtivo

  • É questionável o entendimento de que a rastreabilidade é a bala de prata para a sustentabilidade. Ciência e tecnologia e, principalmente, transferência de tecnologia são fundamentais para o avanço da rastreabilidade, que exige investimentos e debates contínuos porque não se trata apenas da perspectiva geoespacial, mas de todas as tecnologias que garantem a integridade e a credibilidade da informação na cadeia de custódia do produto agrícola.

    A rastreabilidade é ferramenta e, nessa condição, pode servir a tudo. Ter mais rastreabilidade não significa necessariamente ter mais sustentabilidade. Se o aspecto socioambiental, por exemplo, é um dos requisitos, eventualmente a rastreabilidade pode favorecer nas promoções de sustentabilidade. Entretanto, sustentabilidade é um tema muito mais complexo, que tem sido tratado de forma reducionista.

    As primeiras discussões sobre desenvolvimento sustentável, ocorreram em Estocolmo, década de 70, sobre o petróleo e seus impactos no preço, no risco de acabar, por ser um recurso natural não renovável e os impactos ambientais então registrados. A expressão traduzia bem a ideia de associar o desenvolvimento econômico à preservação ambiental. Ao longo dos anos, porém, reduziu-se ao termo de sustentabilidade. Mesmo com as dimensões da econômica, social e ambiental implícitas, a tendência reducionista reforçou a perspectiva de sustentabilidade ambiental. Atualmente, sustentabilidade é associada diretamente a desmatamento, que por sua vez se associa à pecuária. Ou seja, houve um reducionismo.

    Sustentabilidade deve ser uma visão de futuro, uma solução para a sociedade brasileira e não um problema, como parte da sociedade tende a tratar. Seria um problema se houvesse a tradução reducionista e não se conseguisse chegar, de faro, a um equilíbrio de forças.

    Nesse sentido, a rastreabilidade não é a bala de prata para a sustentabilidade, mas um elemento estruturante e importante para promover a sustentabilidade. Há outros elementos igualmente importantes como incentivos e políticas públicas. A dificuldade é traduzir o consórcio produção e conservação como custo de oportunidade, de agregação de valor ao sistema produtivo. E nessa condição, a função estruturante da rastreabilidade se dá na garantia de informações que abrem mercados, permitindo a sustentabilidade econômica do negócio.

    Entretanto, se para a sustentabilidade ambiental a rastreabilidade é um elemento extremamente estruturante e positivo, pode ser excludente para a sustentabilidade social. Como uma estratégia de competitividade, a depender de como é implementada, a rastreabilidade pode excluir quem não consegue pagar por ela. Esse é um cuidado do Ministério da Agricultura: como associar políticas públicas que promovam a agricultura sustentável com estratégias que associam a rastreabilidade para produzir com mais eficiência, conservando ativos ambientais, prontos para serem considerados no custo de oportunidade.

    O Brasil é diferenciado sobremaneira na questão da sustentabilidade ambiental e a rastreabilidade surge como um mecanismo importante de comunicação desse ativo. O país saiu da condição de importador de alimentos nas décadas de 60 e 70 para ser o terceiro maior produtor de alimentos e o maior exportador líquido de alimentos do mundo. Tal transformação em tão pouco tempo se deu por investimento em ciência, tecnologia e conhecimento.

    E é possível fazer mais. O Brasil é o país que reúne as melhores características históricas e atuais para dizer ao mundo como garantir a produção sustentável de alimentos. Apesar das várias dificuldades, que temos trabalhado para superar, é preciso reconhecermos e nos orgulharmos de nossa história. Há 40 anos o Brasil enfrentou a diversidade de solos inférteis e com a agricultura adaptativa mudou a qualidade desse solo, usando pesquisa, ciência e políticas públicas. Há 14 anos o Brasil tem o mais ambicioso plano de agricultura de baixo carbono do mundo, único com métricas, e com a maior meta - um gigaton de CO2 equivalente -, além do Código Florestal, o compromisso mais ousado de preservação ambiental do mundo.

    Trabalhamos neste último ano, na plataforma AgroBrasil+Sustentável que reúne dados oficiais e os disponibiliza gratuitamente ao produtor no Gov.Br. O AgroBrasil+Sustentável consegue gerar a performance de rastreabilidade da produção agropecuária brasileira para, no entendimento do Ministério da Agricultura, reagir à narrativa contrária à produção pecuária brasileira, reação possível somente transparência, credibilidade e integridade de dados.

    A iniciativa privada, as organizações civis, não têm outro caminho que não seja um compromisso seríssimo do agronegócio brasileiro de garantir que os nossos negócios sejam formais, sérios e transparentes. Enquanto o agro bater recordes de produção, mas tiver o produtor rural como o elo mais fraco da cadeia de valor, não haverá transformação. É preciso olhar o pequeno produtor como um pequeno empresário, levar educação a ele, a partir da conectividade, levar logística, garantir estrutura, garantir renda. Nessa perspectiva, iniciativas de rastreabilidade serão importantes ser parceiras.

  • A questão ambiental é um grande foco da rastreabilidade, mas também comporta um outro olhar, como uma questão de compliance, de conformidade. Pensando no ESG (Economy, Sustainability and Governance) a conformidade tem uma razão econômica, uma razão ambiental e uma razão de governança que demanda uma nova gama de desenvolvimentos para garantir o fluxo de informação, entendendo que informação é poder, e pode haver direitos econômicos e direitos legais sobre isso.

    Conforme a informação percorre as cadeias produtivas é possível transmitir atributos independentemente do produto e precificar isso também em relação à parte ambiental, o quanto se está preservando, legalmente ou extra legalmente.

    Isso precisa ser comunicado e não apenas entre nós, o que já é um desafio. Comunicar numa linguagem comum para todos os agentes da cadeia para que, além do ambiente brasileiro, o ambiente global consiga entender através dessas informações que o Brasil dispõe de produtos diferenciados, ambientalmente, sanitariamente e qualitativamente, com valores diferentes dependendo da região, do tipo de produção, do bioma, de riscos ambientais envolvidos, na forma como a produção e a natureza convivem.

    Rastreabilidade não resolve tudo, assim como a certificação não resolve o desmatamento, mas ambas colaboram para que se possa ir mais à frente. Porque certificações, estratégias, rastreabilidade, evoluem à medida que o entendimento comum - não só da ciência e dos governos, mas de todos os stakeholders, todos os agentes - vai melhorando ao longo do tempo, pelo suporte que recebem da ciência e da tecnologia em seus processos.

    Outra questão é como fazer essas bases de dados e sistemas conversarem: os diversos estados, diversos biomas, as diversidades entre público e privado. Existem papéis distintos que pela colaboração podem ser explorados para um entendimento mais amplo dos dados e dos processos. A história do desenvolvimento agropecuário brasileiro mostra esse papel da iniciativa privada de impulsionar o processo de crescimento e de gestão.

    Quando se olha para a agricultura a impressão é de uma situação talvez mais bonita que da pecuária. Embora existam componentes em comum, há também necessidades comuns assim como em relação ao pequeno, ao médio, ao grande produtor e às corporações, mas com impactos de diferentes. O fato é que todos precisam de infraestrutura, de sistema de base, de assistência técnica, de pacote tecnológico e de um mínimo de informação comum a fluir pelo sistema.

    Não dá comparar o gerenciamento desse processo por uma corporação agrícola que tem estrutura técnico-administrativa e do pequeno ou médio produtor rural que muitas vezes não tem as bases de inovação e tecnologia, nem acesso ao conhecimento. Porque não adianta ter linhas de crédito público, privado, toda a inovação do mundo, se o produtor não consegue fazer um plano de negócios, se não consegue manter esse processo, que ao final alimenta outros elos da cadeia, que são muito maiores que ele.

    A sustentabilidade, nesse sentido, para esses produtores, não é só econômica e ambiental, mas tem uma função educativa, uma parte social relativa à inclusão econômica, financeira, de conhecimento, importante para o Brasil.

    Essa é a importância da inclusão, da assistência, do conhecimento que podem permear a parte dos atores de suprimentos, como genética, nutrição, insumos, de modo geral, da parte governamental, da mobilização de bancos públicos e privados e muito também da parte da frente da cadeia.

    São diversas as situações, muito pulverizadas. É preciso estimular no produtor, porém, o entendimento de que fazer a rastreabilidade não se trata apenas de sua propriedade por senso interno de negócio, mas de contribuição para a cadeia a que pertence, por de senso de nação, de ciência para seu Estado.

  • Um estudo sobre a participação do complexo soja - grão, farelo e óleo - no PIB do agronegócio nos últimos 10 anos mostra que saltou de 9% em 2012 para 27% em 2022. Há 10 anos gerava pouco mais de um milhão de empregos. Hoje, são milhões de empregos diretos na cadeia da soja, incluindo biodiesel. A exportação, na safra de 2023, foi de US$ 60 bilhões, sendo US$ 48 bilhões decorrentes da soja em grão, US$10 bilhões de óleo, US$10 bilhões de farelo e US$ 2 de biodiesel. O mercado europeu representou 14% das exportações do ano passado, em torno de US$ 8,4 bilhões.

    O Brasil consagrou-se pelo quinto ano consecutivo, maior produtor exportador de soja do mundo. Das 156 milhões de toneladas produzidas em 44 milhões de hectares, em 2023, 97 milhões foram para a China, ou seja, 68% das exportações de grãos. 10% foram para a Europa. Dos 22 milhões de toneladas de farelo de exportação, 44% foram para a União Europeia.

    No total, o mercado europeu gerou uma receita próxima de 10 bilhões de dólares. Ou seja, não é um mercado decisivo para a sobrevivência. Mas seria uma irresponsabilidade do setor não atender uma demanda tão importante e legítima do ponto de vista do consumidor europeu que há décadas pede produtos livres de desmatamento da floresta tropical e livre de conflitos com terras indígenas.

    Com 851 milhões de hectares o Brasil tem 63% da vegetação nativa. A Amazônia tem 82,9% de vegetação nativa preservada, 53% do cerrado, 65% da caatinga, 26% da Mata Atlântica, 44% do Pampa, 81% do Pantanal, o que credencia o Brasil a ser a maior potência ambiental do mundo.

    Já a pecuária tem 185 milhões de hectares de pecuária.

    Toda a agricultura do Brasil ocupa 10% do seu território, área que não está expandindo em função da soja. Na Amazônia, segundo monitoramento da Abiove e dados do Inpe, nos últimos 17 anos, apenas duzentos mil hectares, de soja foram plantados em áreas desmatadas de floresta tropical, ou seja, 97% da expansão da soja na Amazônia foi em áreas abertas antes de 2008. Se a Europa aceitasse balanço de massa, 97% da soja originada na Amazônia, estaria livre de desmatamento, assim como no cerrado, 96% da soja que expandiu nos últimos 15 anos está livre do desmatamento. A exceção é o Matopiba, a última grande fronteira agrícola do mundo que ainda tem muitos desmatamentos.

    A Abiove desenvolve importantes programas de sustentabilidade como: Moratória da soja na Amazonia, Moratória da soja do cerrado, Controle de supressão autorizado, o Agro Plus e o Protocolo de Grãos do Pará. Todos, 100% originação e rastreabilidade.

    A Moratória da Soja, com 31 signatários que representam 95% do poder de compra e financiamento de grãos no Brasil foi mapeada por pesquisadores da Universidade de Oxford, como um dos dois pactos vigentes no mundo em desmatamento zero. O outro se refere à palma, na Indonésia. A Moratória contou com a participação da sociedade civil, da The Nature Conservancy (TNC), do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Greenpeace e WWF.

    A Moratória da Soja é um relevante aparato para comprovar a originação da soja e o desmatamento zero desde 2008 e obteve nota máxima em 8 de 10 critérios como credibilidade, rastreabilidade, acurácia, rigor técnico, frequência de monitoramento, escopo geográfico. Considerando que a EUDR é de janeiro de 2021, fica claro que o Brasil é mais rigoroso que a legislação ambiental europeia. A Moratória conta também com a participação governamental através do Banco do Brasil, Inpe, Ministério do Meio Ambiente e Ibama.

    O Protocolo de Grãos do Pará, hoje com 81 signatários, é um acordo com o Ministério público federal, com 8 critérios a serem seguidos e que desde 2014 exige CAR para originar soja em grãos e bloqueia o produtor se houver sobreposição com terra indígena, de conservação ou trabalho escravo.

    O Controle de Supressão Autorizada do Cerrado é o novo programa para controle do desmatamento ilegal zero elogiado tanto pela WWF quanto pela Aprosoja. No cerrado, o controle do desmatamento ilegal será igual na Amazônia. O produtor deverá apresentar individualmente as autorizações de supressão de vegetação e se não tiver não poderá comercializar com as signatárias até se regularize.

    Em conjunto com a Coalizão Brasil Clima Floresta, a Abiove está negociando com o Ministério da Fazenda a inclusão do CAR na nota fiscal, o que que seria uma grande solução para assegurar rastreabilidade não só para a soja, mas para todas as culturas agrícolas do Brasil.

    A entidade tem uma cartilha de procedimentos, de critérios socioambientais para a compra e financiamento de grãos do Brasil, seguida por todas as empresas associadas, que somam 92% do poder de compra e financiamento de grãs do Brasil, no que se refere à fundamentação legal, trabalho escravo, conservação, terra indígena, protocolo de grãos.

    Do ponto de vista de documentações já utilizadas, o setor utiliza o manifesto eletrônico, um documento que é 100% rastreabilidade porque nenhum transporte de carga em todo o território brasileiro viaja sem esse documento, da Secretaria da Fazenda e do Planejamento, que mostra a origem da carga, o proprietário do veículo, endereço do proprietário, destino da carga, peso e categoria. Outro documento, é a guia de transporte eletrônico com uma série de informações que auxiliam significativamente na rastreabilidade. O remetente emite a nota fiscal gerando o conhecimento de transporte eletrônico que é enviado para a Secretaria da Fazenda que devolve a autorização para o sistema, o transportador imprime, e a mercadoria viaja com essa documentação.

    Em relação à documentos, a atual demanda das associadas é ter a inscrição estadual não só por produtor rural, mas também por fazenda. Para isso vai conversar com todas as secretarias estaduais de Fazenda.

    Mas ainda há desafios, e eventuais custos, como o engajamento dos indiretos, que está sendo bem-sucedido, o engajamento de produtores, de evitar a triangulação e de realizar a segregação física.

  • Na Bunge a sustentabilidade não é apenas uma área corporativa, é parte efetiva do negócio, seja no processo de originação ou na operação comercial. A sustentabilidade está na rotina da empresa, o que traz força e conexão para as iniciativas da empresa que não olha só para si mesma, mas acredita que realmente a agricultura do futuro é de baixo carbono.

    Há muitas oportunidades quando a empresa olha para agricultura brasileira, que já é de baixo carbono, e para o desmatamento. E a rastreabilidade é um ponto central e fundamental para a promoção dessas oportunidades e para melhorar o cenário.

    A Bunge acredita que seu papel na cadeia produtiva é conectar produtores a consumidores e tem esses compromissos em sua governança de chegar livre de desmatamento em 2025 e de reduzir as emissões nos escopos 1,2 e 3. A empresa quer também conectar os produtores com outros, que têm as suas próprias metas. Isso é parte do negócio, gerar esse diferencial, ‘descomoditizar a commodity’ nas visões dos vários mercados como de biocombustível, de alimentos e de ração, que cada vez demandam mais conexão e mudança, gerando esses incentivos na cadeia.

    A empresa quer ajudar a instrumentalizar os produtores nessa transição. Porque não basta criar uma série de riscos socioambientais se a rastreabilidade pode exclui-los em questões sociais sérias como embargos, por exemplo. Quando, porém, consegue promover a sustentabilidade, os resultados são importantes para a cadeia.

    Da mesma forma, promover inclusão e assistência, na qualidade de setor privado, são pontos de reflexão nos programas da empresa.

    A Bunge atualmente tem 100% de rastreabilidade nas cadeias diretas, graças à tecnologia e sistemas resultantes de investimentos próprios, que permitem à empresa monitorar áreas de risco, identificar desmatamentos ou sobreposições com terras indígenas. O sistema permite uma checagem socioambiental ampla e confiável.

    Com relação à transferência de tecnologia, a Bunge foca no engajamento de indiretos – revendas, cooperativas, cerealistas – para cumprir seus compromissos não só de desmatamento, mas também controle socioambiental da cadeia. O propósito de criar uma diferenciação e fazer a conexão entre produtores e consumidores demanda o engajamento dos indiretos porque eles, por sua vez, precisam controlar suas próprias cadeias, assegurar suas rastreabilidades, precisam de critérios de análise socioambientais e promoção de sustentabilidade.

    A Bunge entendeu que tinha uma visão privilegiada do mundo por sua posição no mercado, participações em fóruns, acesso às ferramentas, o que lhe parecia um entendimento básico, mas que o indireto não tinha. Para sanar essa lacuna, foi criou o programa Parceria Sustentável para instrumentalizar cadeia. Em parceria com o sistema Vega Monitoramento, a Bunge ensina e compartilha todo o conhecimento com os indiretos que, dessa forma, constroem as rastreabilidades de suas cadeias para que a Bunge possa construir a sua. As revendas e cooperativas também estão no programa de incentivos financeiros, as linhas de financiamento da fincrop criada pela Bunge. Dessa maneira, a empresa tem motivado e mostrado seu empenho em criar um diferencias para promover a sustentabilidade em toda a cadeia. Hoje, a empresa já tem mais de 82% de rastreabilidade na sua cadeia.

  • CASE
    Quando a sustentabilidade e a rastreabilidade encontram a moda.

    A ABRAPA – Associação Brasileira dos Produtores de Algodão está completando 25 anos e seu programa primeiro programa de rastreabilidade, o Sistema ABRAPA de Identificação (SAI) começou há 20 anos baseado em uma iniciativa dos Estados Unidos, historicamente o maior concorrente do algodão brasileiro. O setor têxtil é considerado o segundo mais poluidor, mais gerador de resíduos, o que obrigava o setor a falar em rastreabilidade, mas também em sustentabilidade.

    A entidade opera seus programas por pilares: sustentabilidade, rastreabilidade, qualidade e promoção. Em 2004, iniciou o SAI, programa de rastreabilidade. Em 2012, investiu num programa próprio de sustentabilidade e certificação das fazendas de algodão, o ABR. Em 2013, fechou benchmark com a better cotton (grupo multissetorial que promove melhores prática de cultivo do algodão em 22 países), tornando o Brasil o único país a operar nesse sistema, com um protocolo que permite ao produtor brasileiro, uma vez certificado como algodão brasileiro responsável, receber também o licenciamento da better cotton. Isso fez dos produtores da ABRAPA os maiores fornecedores de algodão better cotton do mundo: 37% do que a better cotton transaciona no mundo para as grandes marcas sai de fazendas brasileiras.

    Em 2020 a ABRAPA criou um protocolo para certificação das beneficiadoras, o ABR UBA, fazendo do Brasil o único produtor de algodão a certificar beneficiadoras. Em 2023, surgiram demandas sobre o manuseio dos fardões nos portos, o que levou à criação da certificação ABR Log. No mesmo ano, iniciou o processo de qualidade, porque para a rastreabilidade do algodão não basta a origem única exclusivamente, mas valores agregados. Por isso, a cadeia do algodão foi a primeira a aderir ao programa de autocontrole do Ministério da Agricultura, com o Programa de Qualidade do Algodão Brasileiro (PQAB), cujo plano piloto começou com praticamente 30% da safra com a certificação oficial do Ministério.

    Os pilares de rastreabilidade, qualidade, sustentabilidade, porém, não eram suficientes para chegar ao consumidor final e combater a perda mundial de espaço do algodão, uma tendência dos últimos 40 anos, para as fibras sintéticas. Além disso, com o SAI cada fardo do algodão brasileiro passou a receber uma etiqueta, fixada no fardo na usina, de beneficiamento com código de barras gerado de acordo com a Norma Isso 14516 que atende atributos como contraste, defeitos e decodabilidade além das normas GS1 e com critérios de tipo de matéria prima para a impressão controlada com, com numeração e gráficas homologadas.

    Os processos de certificações da fazenda e da unidade de beneficiamento, têm sistemas próprios e separados, mas integrados com a rastreabilidade. Se houver, por exemplo, uma fazenda sem certificação socioambiental, o campo aparece em branco. A entidade habilitou 12 laboratórios no Brasil para a análise dos fardos, todos monitorados pelo sistema de qualidade da ABRAPA e operando em rede com o sistema. Cada um dos fardos é analisado, num volume aproximado de 14 milhões de fardos nesta safra.

    A rastreabilidade da ABRAPA pode ser consultada por um aplicativo disponível para o comprador ou quem trabalhe com algodão ou pelo portal da entidade, bilingue. Em relação à origem é mostrado inclusive, o Google Maps da fazenda, porque o produtor declara latitude, longitude. E todo ano, safra a safra, atualiza as informações.

    Mas percebeu-se, que muitas vezes a etiqueta era descartada na fiação, sem que a empresa se apropriasse dos dados. Como consequência, praticamente eram descartados os esforços dos programas de rastreabilidade, sustentabilidade e qualidade. Enquanto isso, o produtor cobrava da entidade quando o consumidor poderia saber que o algodão da roupa que usava se originara em sua fazenda.

    Para dar conta desses desafios e falar com o consumidor final, foi criado, então, o programa Sou de Algodão. Nessa época, não havia globalmente nenhum caso de rastreabilidade até o consumidor final na cadeia têxtil.

    O programa Sou Algodão, iniciado em 2016 no pilar da promoção, aproximou a entidade de grandes varejistas e demais empresas da cadeia têxtil e desenvolveu ações de comunicação como produção de conteúdo, sites e blogs; relacionamento com públicos-chave da moda; marcas parceiras; relacionamento institucional; negócios e inovação; assessoria de imprensa. A ideia era traduzir para o consumidor final o trabalho dentro das fazendas e a diferença entre a fibra natural e a sintética. Hoje mais de 1500 marcas parceiras participam do programa, com 75 milhões de tags distribuídas desde 2020. Com a rastreabilidade ponta a ponta grandes empresas aderiram.

    Posteriormente, o Sou de Algodão e o ABR se juntaram no Sou ABR unindo rastreabilidade e sustentabilidade sob o lema Rastreáveis: da semente ao guarda-roupa. Renner e Reserva foram as primeiras varejistas a entrar no programa, abrindo também seus dados para completar a cadeia. Como primeiros resultados, quase duzentas mil peças produzidas e disponíveis para quem vende a preços acessíveis.

    Participar do processo é opção do produtor que entende que ao final terá uma remuneração adicional, porque terá preferência de compra, por exemplo, das grandes redes de moda, varejistas, com suas coleções rastreadas que exigem algodão certificado. O processo não é simples, nem fácil e ainda depende, em parte, de mudanças culturais e do entendimento do produtor de que ficar fora da cadeia da rastreabilidade é perder dinheiro.

Insumos e contribuições

Quais foram os insights mais significativos registrados durante as discussões.

As principais discussões sobre conectividade e rastreabilidade se encaixam no Eixo Estruturante 1, o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, distribuindo- se principalmente nas áreas estratégicas de Biomas e bioeconomia; Ciências e tecnologias sociais; Clima; Economia e sociedade digital e Tecnologias convergentes e habilitadoras, através dos seguintes pilares:

Promoção da Pesquisa científica básica e tecnológica:

  • Garantir a segurança cibernética para geração e compartilhamento de dados em ambientes seguros e a disseminação dos conhecimentos específicos dos diversos setores e suas cadeias produtivas, para não depender de dados e instrumentos internacionais;

  • Assegurar soberania nacional no desenvolvimento da indústria brasileira de infraestrutura, equipamentos e em inovações de conectividade e rastreabilidade, garantindo autonomia ao país e valorizando sua academia e seu setor produtivo. Planos de rastreabilidade, por exemplo, devem ficar no Brasil, o país deve ter políticas públicas para manter os dados aqui, principalmente para o uso seguro da Inteligência artificial.

Ampliação do Financiamento para o desenvolvimento da CT&I:

  • Em curto e médio prazo ter políticas públicas baseadas no mapeamento de estudos e iniciativas já existentes e de fundos específicos como o FUST e linhas de créditos como BNDES para investimento em tecnologia de infraestrutura de conectividade, inclusive satelital; geração de dados, biologia molecular e isótopos; de comunicação e em ferramentas e técnicas mais eficientes para rastrear a cadeia produtiva como credenciamento de laboratórios para análise e estudos de longo prazo.

Formação, atração e fixação de recursos humanos:

  • Através da conectividade, reforçar a educação básica em todo o país preparando as crianças para os desafios do ambiente digital, qualificação de cursos técnicos e reforço de cursos acadêmicos para fixar o jovem no campo com perspectiva de carreira; letramento digital do produtor rural pequeno, médio e grande para o pleno uso das ferramentas e tecnologias para geração e integração de dados nos diversos sistemas e melhoria de processos produtivos.

Promoção da inovação tecnológica nas empresas:

  • Fomentar processos de transferência de tecnologia, como as de rastreabilidade, por exemplo, entre setores e nas cadeias produtivas, investir em ferramentas e técnicas mais eficientes para rastrear a cadeia produtiva como credenciamento de laboratórios para análise e estudos de longo prazo destinados a pequenos médios e grandes produtores; divulgar plataformas, ambientes de produção de conhecimento e iniciativas de compartilhamento já existentes para garantir a integração de todos os esforços; desenvolver política pública para governança dos dados que favoreça a divisão do custo da rastreabilidade por toda a cadeia.

Principais temas

Apresentação do resumo das discussões de cada tema, destacando as principais tendências identificadas.

TEMA 1

Conectividade no campo

O aumento da conectividade e do uso de tecnologias no campo é um esforço de todos os atores, um trabalho em rede, que deve contar com políticas públicas, investimentos privados e disseminação do conhecimento sobre tecnologias, recursos, estudos científicos e investimentos e iniciativas empresariais e da sociedade civil já disponíveis e necessidades a serem resolvidas como infraestrutura e educação.

1.a - Infraestrutura: mapeamento de todas as tecnologias disponíveis por região e gaps para a plena conectividade como identificar localidades onde o acesso à energia elétrica ainda é um problema ou como integrar os pequenos provedores. 

1.b - Políticas públicas: definir em curto e médio prazo políticas públicas baseadas no mapeamento de estudos e iniciativas já existentes, e principalmente, de fundos específicos como o FUST e linhas de créditos como BNDES.

1.c - Participação da sociedade civil: unificar e integrar os esforços do poder público, nos diversos níveis governamentais (órgãos e ministérios federais, secretarias estaduais e prefeituras), da iniciativa privada (entidades empresariais, produtores rurais pequenos, médios e grandes), terceiro setor, cooperativas, comunidades tradicionais e academia.

1.d - Educação, formação técnica e pesquisa: investir em pesquisa e desenvolvimento científico para gerar inovações, garantir a soberania nacional e a segurança cibernética ao país; investir em formação técnica para a qualificação e a fixação dessa mão de obra no campo; reforçar a educação básica em todo o país preparando as crianças para os desafios do ambiente digital.


TEMA 2

Rastreabilidade das cadeias produtivas

A rastreabilidade é um caminho importante para o agro brasileiro garantir a sustentabilidade e a conquista de novos mercados internacionais. Tecnologias e dados disponíveis devem ser integrados e geridos para inclusão de todas as cadeias produtivas e produtores - pequenos médios e grandes. Para isso, são necessários investimentos em ciência e tecnologia, comunicação e regulamentação dos diversos processos.

2.a - Investimentos:

1 - em ciência e tecnologia para geração de dados, biologia molecular e isótopos, para entender de onde veio cada coisa;

2 - na indústria nacional, inclusive infraestrutura satelital e de comunicação, para não depender de dados e instrumentos internacionais;

3 - tecnologia, não é uma barreira, já existem sistemas como o CAR e plataformas financeiras que permitem cruzamento de dados. Investir em ferramentas e técnicas mais eficientes para rastrear a cadeia produtiva como credenciamento de laboratórios para análise, estudos de longo prazo.

2.b - Comunicação: para gerar consciência dos produtores para o futuro; entender que as vantagens virão pela abertura de novos mercados, competitividade internacional e valorização da marca Brasil; conquistar a confiança do consumidor e diferenciar o agro responsável da ilegalidade, sair da guerra de narrativas.

2.c - Regulamentação:

1 - das cadeias produtivas, das que mais impactam nos negócios às pequenas, que precisam ser incluídas;

2 - fundiária, com validação de cadastros por satélite, entender as legislações estaduais;

3 - fiscal: dados na nota fiscal são imprescindíveis, trazer a Sefaz para isso.

2.d - Inclusão: a rastreabilidade tem que ser inclusiva, processos mais simples, ajudariam os pequenos produtores que são excluídos pelo custo.

2.e - Integração de dados:

1 - integrar dados para mostrar a sustentabilidade. Dados têm que ser bons e oficiais;

2 - ter política pública de governança dos dados que estabeleça divisão do custo da rastreabilidade por toda a cadeia;

3 - planos de rastreabilidade devem ficar no Brasil, ter políticas públicas para manter os dados aqui, inclusive IA.

Resultados e Recomendações

O aumento da conectividade e do uso de tecnologias no campo é um esforço de todos os atores, um trabalho em rede, que deve contar com políticas públicas, investimentos privados e disseminação do conhecimento sobre tecnologias, recursos, estudos científicos e investimentos e iniciativas empresariais e da sociedade civil já disponíveis e necessidades a serem resolvidas como infraestrutura e educação.

A rastreabilidade é um caminho importante para o agro brasileiro garantir a sustentabilidade e a conquista de novos mercados internacionais. Tecnologias e dados disponíveis devem ser integrados e geridos para inclusão de todas as cadeias produtivas e produtores - pequenos médios e grandes. Para isso, são necessários investimentos em ciência e tecnologia, comunicação e regulamentação dos diversos processos.

  • Mapear todas as infraestruturas e tecnologias disponíveis por região e gaps para a plena conectividade como localidades onde o acesso à energia elétrica ainda é deficitário ou como integrar os pequenos provedores.

  • Definir em curto e médio prazo políticas públicas baseadas no mapeamento de estudos e iniciativas já existentes, e principalmente, de fundos específicos como o FUST e linhas de créditos como BNDES.

  • Investir em pesquisa e desenvolvimento científico para gerar inovações, garantir a soberania nacional e a segurança cibernética ao país.

  • Investir em formação técnica para a qualificação e a fixação dessa mão de obra no campo.

  • Reforçar a educação básica em todo o país preparando as crianças para os desafios do ambiente digital.

  • Investir em ciência e tecnologia para geração de dados, biologia molecular e isótopos, originação e rastreabilidade.

  • Investir na indústria nacional, inclusive na infraestrutura satelital e de comunicação, para não depender de dados e instrumentos internacionais.

  • Investir em ferramentas e técnicas mais eficientes para rastrear a cadeia produtiva como credenciamento de laboratórios para análise e estudos de longo prazo.

  • Comunicação para gerar consciência dos produtores para o futuro; entender que as vantagens virão pela abertura de novos mercados, competitividade internacional e valorização da marca Brasil; conquistar a confiança do consumidor e diferenciar o agro responsável da ilegalidade, saindo da guerra de narrativas.

  • Regulação das cadeias produtivas, das que mais impactam nos negócios às pequenas, que precisam ser incluídas.

  • Regulação fundiária, com validação de cadastros por satélite, entender as legislações estaduais.

  • Regulação fiscal: dados na nota fiscal são imprescindíveis.

  • Adesão urgente dos municípios à Lei Geral de Antenas para garantir agilidade à expansão da conectividade em todas as regiões do país, reduzindo burocracia e garantindo segurança jurídica para licenciamentos de instalação e uso de antenas.

  • Garantir a inclusão dos pequenos. Conectividade e rastreabilidade têm que ser inclusivas, com processos simples e baratos para que os pequenos produtores não sejam excluídos pelo custo.

  • Integrar dados oficiais e privados para mostrar a sustentabilidade; ter política pública de governança dos dados; políticas públicas de retenção dos planos de rastreabilidade e dados no país, inclusive IA; divulgar programas, iniciativas e estudos de rastreabilidade e sustentabilidade.

  • Garantir inclusão e igualdade de acesso à conectividade, incentivos, educação básica, letramento digital, transferência de tecnologia, oportunidades e disseminação de conhecimento ao pequeno e médio produtor, comunidades próximas e populações originárias.

Tendências emergentes

Conectividade e rastreabilidade são elementos-chave para a adoção plena da agricultura de baixo carbono. 

No contexto mais amplo da transformação digital é fundamental contextualizar a conectividade e a rastreabilidade, pensando no futuro, conectadas aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, onde a agricultura é determinante. 

Soberania nacional para assegurar conectividade no campo e rastreabilidade das cadeias produtivas, incentivando a pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e o investimento na indústria nacional e segurança cibernética 

Políticas públicas são fundamentais para assegurar a transformação digital no campo: para investimentos em infraestrutura, tecnologias e equipamentos, para regulações, fomento de pesquisa, integração e gestão de dados. 

Capacidade de trabalhar em rede, em grupo: até onde a iniciativa privada consegue ir, onde entram o governo e a sociedade civil integrando os vários setores na defesa dos mesmos interesses.

Pós-Conferência

Quais ações devem ser criadas, retomadas ou descartadas com base no conhecimento gerado na conferência.

A inclusão deveria ser uma política-chave da 5ª. Conferência: o avanço científico e tecnológico tem que trazer necessariamente a inclusão para o País. Essa proposição se deu pela avaliação de que o Brasil historicamente faz muitos planos, porém concretiza poucos. Não atribui recursos e prioridades a esses planos. Prova disso é que embora o uso de recursos digitais no país tenha avançado nos últimos anos, a inclusão de todos não ocorre. 

O impacto potencial da agenda digital no campo é muito grande. Os avanços no conhecimento, nas técnicas de produção podem melhorar a distribuição de recursos na agricultura, na logística, melhorar o bem-estar. O que deve mover esse trabalho é olhar para o futuro e ver como a ciência pode trazer benefícios para a população como um todo e não restringir esses benefícios a apenas um ou outro grupo social, ser inclusiva e não excludente.

Estamos vivendo um período que demanda do governo e demais atores políticas, regulação e governança. Políticas para o país ser um player importante na economia global digital e avançar na inovação. Regulação para que governos estaduais e municipais e iniciativa privada possam investir em ciência, tecnologia, educação e geração de empregos. Governança para garantir produção e compartilhamento e integração de dados que ajudem os produtores pequenos médios ou grandes a pensarem além da fazenda: na estrada, nos corredores logísticos, na indústria, na exportação, na embalagem e na reciclagem.

A Conferência livre contou com a participação da iniciativa privada através de entidades representativas e de produtores rurais, governos com representantes do MCTI, do CGEE, de secretarias estaduais, de diversas universidades, entidades do terceiro setor e outros atores da sociedade civil.

Por seu caráter aberto, de livre discussão, o evento teve o importante papel de igualar conhecimentos, de colocar diversos setores envolvidos nos esforços de digitalização do campo no mesmo ambiente de discussão, cada um com suas expertises, vivências, crenças e críticas. 

Os problemas foram apontados objetivamente, como por exemplo, as dificuldades de ampliar a oferta de acesso à internet no interior por falta de regulação, burocracia, segurança jurídica e até falta de energia elétrica.

O acesso de todos a programas e protocolos em andamento como a Moratória da Soja, o Sou de Algodão e iniciativas pontuais como produção de cartilha, inclusão de informações na nota fiscal, mostrou o compromisso de todos com um objetivo comum. Apontou também apontou a necessidade de se repetir encontros como esse com regularidade.

Grupos de Trabalho

Principais conclusões e recomendações resultantes das discussões realizadas em grupos de trabalho.

O aumento da conectividade e do uso de tecnologias no campo é um esforço de todos os atores, um trabalho em rede, que deve contar com políticas públicas, investimentos privados e disseminação do conhecimento. A rastreabilidade é importante para o agro brasileiro garantir a sustentabilidade e a conquista de novos mercados internacionais. 

Tecnologias e dados disponíveis devem ser integrados e geridos para inclusão de todas as cadeias produtivas e produtores - pequenos médios e grandes. Para isso, são necessários investimentos em ciência e tecnologia, comunicação e regulamentação dos diversos processos. 

Não podemos produzir riqueza só por produzir, mas, sim, para que as pessoas possam viver. Essa é uma lógica inteligente, ser bom para todos.

Os desafios sociais e climáticos impõem atitudes urgentes e emergentes. Inclusão, fomento à economia de baixo carbono podem contribuir para reduzir os impactos das mudanças climáticas e garantir a igualdade. 

Contribuições mais inovadoras e promissoras

O Caso da ABRAPA – Associação Brasileira do Algodão foi uma excelente contribuição porque em sua história de 20 anos na busca da rastreabilidade do produto de ponta a ponta mostrou-se quase como um check-list do uso de todos os recursos tecnológicos e de comunicação disponíveis para atingir aos objetivos de sustentabilidade, de negócios e de imagem e reputação do programa sem esconder os percalços e dificuldades nas mais diversas fretes.

Vale ressaltar as participações da professora Mariangela Hungria, da Universidade Federal de Londrina, da cientista Helena Nader, presidente da Associação Brasileira de Ciências, do biólogo Adalberto Val, pesquisador do INPA.

Desafios estruturais e obstáculos a serem superados

O aumento da conectividade, do uso de tecnologias acessíveis no campo e a rastreabilidade não resolvem todos os problemas do Brasil, mas são caminhos importantes para o agro brasileiro garantir a produção sustentável, a conquista de novos mercados internacionais, a conservação de biomas e a igualdade de oportunidades no campo. Por isso todos os atores sociais devem trabalhar para assegurar 100% de conectividade e rastreabilidade nas cadeias produtivas e apostar na pesquisa e na educação básica e no letramento digital.

Resumo das discussões

1. Mapeamento de tecnologias disponíveis por região e identificação de problemas; definição de políticas públicas para financiamentos, governança e fomento de pesquisas.

2. Unificar e integrar os esforços do poder público, nos diversos níveis governamentais (órgãos e ministérios federais, secretarias estaduais e prefeituras), da iniciativa privada (entidades empresariais, produtores rurais pequenos, médios e grandes), terceiro setor, cooperativas, comunidades tradicionais e academia.

3. Pesquisa e desenvolvimento científico, soberania nacional, segurança cibernética ao país devem ter investimentos tanto de governos quanto da iniciativa privada.

4. Formação técnica e reforço da educação básica para enfrentar os desafios do ambiente digital.

5. Na rastreabilidade, investimentos em geração de dados e ferramentas técnicas eficientes para não depender de instrumentos internacionais.

6. Conscientizar produtores para o futuro, as vantagens da abertura de novos mercados, atendimento à confiança do consumidor e diferenciação do agro responsável do ilegal.

7. Ambientes regulatórios para qualificar cadeias produtivas, questões fundiárias, fiscais e Lei Geral de Antenas.

8. Processos mais simples, ajudariam os pequenos produtores que são excluídos pelo custo.

9. Dados precisam de governança para garantir qualidade e confiabilidade e serem compartilhados setorialmente e nas cadeias produtivas.

Colaborações e projetos futuros

A Fundação Bunge por coerência com seus compromissos estimulou a realização de novos encontros e colocou sua estrutura à disposição dos interessados para essa troca. E enfatizou a importância do encaminhamento deste documento à 5ª. Conferência.


Novos conceitos

O letramento digital, embora não seja um conceito novo, foi acolhido pela maioria dos participantes como uma nova abordagem para o campo principalmente pela abrangência proposta: para o pequeno, o médio, o grande produtor, demais elos da cadeia e comunidades. O conceito deu conta de traduzir para todos os segmentos presentes a realidade da digitalização do agronegócio.